É assustador.
O avanço das doenças mentais em mentes ainda em desenvolvimento (vulgo “Gen-Z”), impulsionado pelos efeitos das mídias sociais, foi o tema central desta sessão de ontem, 08/03, aqui na SXSW.
Liderada pela premiada criativa Margaret Johnson, da Goodby Silverstein & Partners, a discussão se baseou no documentário da também publicitária e renomada documentarista Lauren Greenfield (que levou 14 Leões em Cannes com a campanha #LikeAGirl, lembram?). Sua docussérie, Social Studies, foi lançada no ano passado no Hulu e Disney+.
A diretora explica que esse trabalho é uma espécie de continuação de suas investigações anteriores sobre a influência da mídia na vida dos jovens. E, como mencionei acima, é assustador.
Padrões de beleza irreais, transtornos alimentares como anorexia e bulimia, gordofobia entre jovens, depressão, suicídio… you name it. A situação já está fora de controle dentro da geração Gen-Z, especialmente desde a pandemia, quando as interações presenciais entre os jovens foram abruptamente interrompidas e as relações migraram do real para o virtual.
A docussérie de Lauren Greenfield pretende abrir um debate necessário, pois a complexidade do problema exige a participação de múltiplos atores: pais, educadores, plataformas digitais, governos e a opinião pública.
Essa é a fase da vida em que a identidade ainda é incerta, disforme. É o momento em que os indivíduos testam a si mesmos em busca de aceitação na comunidade. Criam múltiplas personalidades em uma espécie de teste A/B da vida—um comportamento para cada contexto: com os pais, entre amigos, na escola, nos eventos familiares… E é exatamente aí que mora o perigo.
Não é raro que a Gen-Z mantenha vários perfis nas plataformas. Alguns socialmente aceitos, outros mais escondidos, como aqueles com hashtags do tipo #proano (pró-anorexia) ou #suicidalprocess. Além disso, há os perfis para a família, os para a escola e os que refletem suas identidades mais íntimas e vulneráveis.
Segundo a PhD em Behavioral Science Kelly Goldsmith, da Universidade de Vanderbilt, o ser humano responde aos estímulos da vida a partir de dois vetores fundamentais: ambição (goal) e ameaça (threat).
Nas redes sociais, especialmente no TikTok e, em menor grau, no Instagram, a reação desse grupo aos estímulos da vida é predominantemente de ameaça—o medo de não pertencer. Isso gera uma busca incessante pela adequação a um conceito idealizado de corpo e identidade: magro, simétrico, equilibrado, superior, inabalável, invejado. Em outras palavras, a idealização do padrão greco-romano clássico de beleza.
Mas a discussão está apenas começando. Estamos diante de uma nova epidemia global—a epidemia das doenças psíquicas geradas pelo uso das redes sociais.
Esse tema tende a se expandir para diversas esferas nos próximos anos: da política à educação, do contexto social e familiar ao debate na opinião pública. O mais alarmante, porém, é que o impacto sobre famílias com filhos nessa faixa etária já atingiu proporções colossais.
Muitas famílias, no entanto, ainda não perceberam a dimensão do problema dentro de casa. A pressão silenciosa imposta pelas redes sociais sobre a autoimagem e a identidade dos jovens se infiltra no cotidiano sem grandes sinais visíveis—até que as consequências se tornem inevitáveis.
Ulisses Zamboni – Chairman e Sócio
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