Lorenzo Mendoza

Sócio Sênior e VP de Planejamento da Santa Clara

Não é surpresa para ninguém que nos encontramos em um mundo cada vez mais polarizado, onde temas sociais, econômicos e ambientais surgem nas plataformas das mídias sociais, locais que se iniciam discussões acaloradas e intermináveis que geralmente terminam em descontrole, ruído e crise.

Alguns assuntos são recorrentes e voltam à tona de tempos em tempos. Um deles está impregnado na história brasileira e mundialmente voltou com mais força, que é o tema do racismo estrutural e endêmico.

Como é de conhecimento geral, a luta contra o racismo vem sendo capitaneada por alguns movimentos, mas nenhum tão forte quanto o Black Lives Matter nos Estados Unidos que reverbera fortemente também no Brasil. As questões levantadas pelo movimento e as que têm correlação imediata com o tema, como expressões verbais ou comportamentos sociais próximos à questão de raça vem sendo observada de perto pela comunidade. E a origem do termo Black Friday e sua adoção para 2020 tem sido um deles.

O planejamento da Santa Clara, em seu papel consultivo, vem estudando e tentando decifrar o que está acontecendo no contexto on e offline sobre o tema para dimensionar seu impacto para as marcas em geral. Nesse sentido, não podemos deixar de apontar para a necessidade da mudança do nome da data promocional.

Tudo leva a crer que a data, que vem se notabilizando como a segunda data mais importante anual do Varejo Promocional brasileiro, neste ano será objeto de escrutínio pela sociedade, imprensa e mídias sociais e que haverão movimentos contrários ao nome Black Friday. E que grande parcela da população poderá e deverá se posicionar contra as marcas que adotarem este nome.

Há de se destacar que o assunto tem considerável pertinência. Há uma simbologia que vai além da origem dos vernáculos do termo. Chamar de “black” um dia em que tudo é mais barato, contaminando a promoção de significado depreciativo, pode não ser mais aceitável em 2020. Especialmente num país que passou por 350 anos de escravidão e em seus 150 anos de abolição tem lutado para diminuir o racismo que ainda permeia a sociedade. Embora essa seja composta por mais de 50% de pessoas negras e pardas.

Dito isso, temos recomendado para nossos cliente que não utilizem o termo Black Friday para suas promoções. Sugerimos, ao invés, o termo Best Friday, visto que proporciona luz ao termo e retira qualquer conotação negativa . Além disso, o adjetivo best mesmo que em inglês, é facilmente compreendido no país.

Acreditamos que com o cenário de crise que já estamos vivendo, esta data promocional de novembro precisa estar dedicada à não fricção com os consumidores e ao atingimento de metas, não ao gerenciamento de crises de imagem entre os consumidores e marca.